Pular para o conteúdo principal

Lupa vs. Modelo Tradicional: qual categorização realmente ajuda o cliente a agir?

· Leitura de 6 minutos
Felipe Reis
Fundador Gente Rica

Categorias, metas e afins

A maioria das ferramentas de planejamento financeiro se apoia no tripé Categoria → Subcategoria → Tag para organizar despesas e criar metas. Funciona para descrever o passado. Mas quando a missão é mudar o futuro — transformar relatório em hábito — será que esse modelo ainda é o melhor?

Neste post, comparo o modelo por Lupa (categorias específicas + Lupa persistente + Meta com snapshot e exclusividade) com o entendimento tradicional (categorias, subcategorias, tags e metas). A ideia é prática: entender qual caminho reduz atrito, aumenta adesão e dá clareza de ação para o cliente.

Lupa vs. Modelo Tradicional - Qual categorização realmente ajuda o cliente a agir?

Visão geral do modelo com lupa

  • Registro: Lupa reduz atrito (1 nível de categoria específica); árvore tradicional aumenta fricção.
  • Metas: Lupa foca hábitos (grupos persistentes de categorias); tradicional força metas em "gavetas".
  • Flexibilidade: Lupa reusa o mesmo agrupamento em várias metas/clientes; tradicional depende de árvore + tags ad-hoc.
  • Histórico: Lupa + snapshot na meta congela a composição; tradicional sofre com reclassificações.
  • Risco: Lupa exige governança (sobreposição, versão); tradicional sofre com explosão de subcategorias e tags ambíguas.

Como funciona cada modelo

Modelo por Lupa (com os ajustes recomendados)

  • Categoria (específica): o que a pessoa realmente decide (ex.: Restaurante • Japonês, Churrascaria, Troca de óleo). Uma por lançamento.
  • Lupa (persistente): agrupamento reutilizável de categorias (opcionalmente com filtros como canal/estabelecimento). Não carrega pessoa nem período.
  • Meta: aplica uma Lupa a pessoas e período, com tipo (valor máximo, frequência máxima, ou ambos). A meta guarda um snapshot da composição da Lupa (para o histórico não "mudar sozinho").

Regra de ouro: Lupa define o o quê. Meta define para quem e quando.

Modelo tradicional

  • Categoria/Subcategoria: árvore hierárquica (ex.: Alimentação → Restaurante → Japonês).
  • Tags: rótulos paralelos (ex.: delivery, reembolsável).
  • Meta: definida sobre categoria/subcategoria e, às vezes, sobre tags.

Comparativo lado a lado

DimensãoLupa (categorias específicas + Lupa persistente + Meta com snapshot)Tradicional (categoria, subcategoria, tags, meta)
Modelo mental do clienteRegistra no específico (sushi, revisão); naturalDecide entre gavetas (Alimentação, Transporte); abstrato
Atrito de registroBaixo (um nível)Médio/alto (vários níveis + dúvida)
Visão macroLupa (agrupamento reutilizável)Árvore fixa + tags (visões ad-hoc)
MetasEm cima da Lupa (valor/frequência; por pessoa/período)Sobre categoria/subcategoria/tag (disperso)
Dupla contagemControlada: metas só com Lupa exclusiva; política claraAlta: tags sobrepostas somam duas vezes com facilidade
HistóricoSnapshot da Lupa na meta; relatórios estáveisTroca de árvore/tag "reescreve" o passado
Explosão de nósEvitada (vocabulário canônico de categorias)Frequente (subcategorias e tags variam por cliente)
Granularidade de metasFácil: Delivery R$ 300, Sushi 2x/mêsDifícil: depende de regras de tag e exceções
Supermercado e itens mistosTrata como lugar; divide quando necessárioFrequentemente "vira comida" por decreto
Reuso entre clientesAlto: Lupas "Delivery", "Carro", "Taxas" replicáveisBaixo: árvores e tags perdem padronização
Explicabilidade p/ clienteAlta: "Você está em 2/2 rodízios; 260/300 no Delivery"Média: "Você estourou Alimentação em R$ 400" (pouco acionável)

Exemplo prático

Lançamentos (categorias específicas):

  • 03/08 — Restaurante • Japonês — R$ 180 — Participante: Roberto
  • 10/08 — Churrascaria — R$ 240 — Participante: Roberto
  • 15/08 — Delivery • Refeição — R$ 85 — Participante: Família

Lupa (persistente): Alimentação → [Japonês, Churrascaria, Delivery, Supermercado]

Metas (Agosto):

  • "Sushi Roberto": Lupa (snapshot = [Japonês]), FrequênciaMáxima = 2, Pessoas = [Roberto]
  • "Churrascaria Roberto": snapshot [Churrascaria], FrequênciaMáxima = 2, Pessoas = [Roberto]
  • "Alimentação Família": snapshot [Japonês, Churrascaria, Delivery, Supermercado], ValorMáximo = 2000, Pessoas = [Família], Exclusiva = true

Processo:
Cada lançamento do Roberto primeiro consome metas específicas (Sushi/Churrascaria) e depois a meta macro (Alimentação Família) — sem dupla contagem.

Quando cada um "vence"

Lupa vence quando…

  • Você quer metas por hábito (delivery, rodízio, experiências) e feedback claro.
  • Precisa reusar agrupamentos em vários clientes e ao longo do tempo.
  • Deseja histórico estável (snapshot) e menos "gambiarras" com tags.

Tradicional vence quando…

  • O objetivo é classificar para relatórios contábeis (sem metas comportamentais).
  • Há forte dependência de comparabilidade externa por plano de contas fixo.
  • A equipe já domina tags disciplinares e aceita abrir mão de metas exclusivas.

Riscos do Lupa (e como mitigar)

  1. Sobreposição entre Lupas (mesmo lançamento conta em 2 metas).
    Mitigação: marque Lupas para orçamento como Exclusivas; use sobreposição apenas em análise.

  2. Frequência enviesada (duas cobranças do mesmo jantar viram "2x").
    Mitigação: colapsar por dia + categoria + estabelecimento (com janela configurável).

  3. Reclassificação retroativa mudando consumo passado.
    Mitigação: metas guardam snapshot; reprocessar apenas o período afetado e manter log de ajustes.

  4. Vocabulário canônico insuficiente (1000 versões de "japonês").
    Mitigação: dicionário canônico + sinônimos/regex; revisão editorial periódica.

Híbrido recomendado (se quiser o melhor dos dois)

  • Categorias específicas (uma por lançamento) = base.
  • Lupa persistente = visão do profissional; Meta usa Lupa exclusiva + snapshot.
  • Tags leves (opcionais) para atributos ortogonais: reembolsável, centro de custo, campanhanão usar tags para metas.

Migração sem dor (do tradicional para Lupa)

  1. Congele o vocabulário de categorias específicas (a partir das subcategorias atuais).
  2. Crie Lupas base ("Alimentação", "Carro", "Delivery", "Taxas").
  3. Converta metas existentes: metas de categoria viram metas de Lupa exclusiva; metas de tag viram Lupas dedicadas.
  4. Habilite snapshot na meta e versionamento de Lupa.
  5. Eduque com microcopy: "Lupa não muda lançamentos; muda como você enxerga."

KPIs para monitorar a escolha

  • Aderência de registro (lançamentos/mês/usuário).
  • Tempo médio para criar uma meta.
  • % de metas com dupla contagem (esperado: 0 nas exclusivas).
  • % de metas que batem 80%/100% (calibragem).
  • Retrabalho por reclassificação (tendência decrescente = saúde do modelo).

Conclusão

Se a sua prioridade é mudar comportamento e dar clareza de ação, o modelo Lupa + Meta (snapshot + exclusividade) é mais alinhado ao trabalho do planejador moderno.

Categorias/subcategorias/tags continuam úteis — mas como infra de classificação e filtro. A estratégia mora nas Lupas, e o plano ganha vida quando as metas falam a língua do hábito.

Próximo passo sugerido: escolha 3 clientes, crie 4 Lupas base e 1–2 metas por Lupa (valor e/ou frequência). Em 30 dias, compare adesão, clareza das conversas e número de ajustes necessários. A diferença tende a aparecer na primeira semana.